Esta é uma série de contos que tenho vindo a canalizar. Comecei por escrever um conto de Yule mas, rapidamente me apercebi de que a escrita não era minha. Saudemos então Niana, a minha Mestra Feiticeira, que, séculos depois, me transporta de volta a tempos idos...
Espero que gostem.
Niana
- Um Conto
de Yule
Niana acordou ouvindo um bater suave na janela.
Toda a noite escutara os uivos do vento, o ranger das traves do telhado.
Assustada metia a cabeça sob as cobertas espessas, algumas das peles
provenientes das caçadas, que sua mãe tinha curtido com cinzas e Sol. Naquela
hora misteriosa em que as sombras ainda cobriam a Terra, fazendo uso de toda a
sua coragem, Niana levantou-se e dirigiu-se à janela...
Um Ohhhh de espanto, seguido de um arregalar
de olhos, saudaram quem tinha batido de mansinho...
A neve caía solta, cobrindo a Terra; nas
árvores pingentes de gelo brilhavam, iluminados pelos primeiros clarões da
Aurora.
Excitada, a menina vestiu apressadamente as
roupas pesadas e calçou as grossas botas de pele. De fugida, pegou um pedaço de
pão e uma maçã, saindo pra rua...
Aquele era um claro sinal de que aquele Yule
iria ser muito especial.
Niana. era a sétima filha de uma feiticeira,
nascida no dia do Solstício de Inverno, e este ano acabava de se tornar mulher.
Este seria o seu primeiro Yule entre os
adultos alem de que seria também o dia da sua iniciação nos mistérios da Mãe.
Ela sabia que o seu caminho seria longo e solitário uma vez que entrasse na
Casa da Deusa, mas não podia também deixar de sentir um certo orgulho por isso.
Ajuizadamente, resolveu aproveitar aquele seu último
dia como menina, e cabriolando, dançou sob o nevão!
Aos poucos, a aldeia foi acordando e logo
outras crianças se lhe juntaram, dando-se inicio á primeira batalha de bolas de
neve.
Daí a pouco, os homens sairiam rumo à montanha,
para cortar e trazer o Tronco que nesse ano iluminaria as trevas.
Das chaminés, começaram a elevar-se colunas de
fumo aromático e o cheiro dos assados e dos bolos encheu o ar.
Niana viu os homens saírem cantarolando
felizes, pois que a Mãe esse ano tinha sido mais generosa que o habitual e as
despensas abarrotavam de peças de caça e cereais.
Esfomeada de novo, correu à cozinha, deu um
beijo rápido na mãe e pegando outro pedaço de pão e queijo, saiu de novo.
Desta vez porem, dirigiu-se ao seu "Reino"...uma
pequena clareira perdida entre pedras altas e árvores antigas.Entre as pedras
formara-se uma pequena gruta onde por vezes a menina se escondia para sonhar. A
correnteza suave do ribeiro ali perto embalava-a, fazendo-a perder-se em
devaneios.
Naquele dia, algo lhe chamou a atenção:
pequenas pegadas na neve fresca dirigiam-se para o seu refugio.
Espreitou a tempo de ver uma formosa Lebre
branca ...esfregou os olhos....????Espera!!! Não era uma Lebre...ou era? Mas
ela ia jurar que tinha visto e as pegadas não a desmentiam...
Dentro da pequena gruta, uma mulher muito bela
acenava-lhe com a mão pedindo que se aproximasse.
A Senhora era tão linda...vestia um traje tão
fino, até parecia que brilhava...
Niana foi-se chegando..Ela era tão bonita,
certamente não lhe ia fazer mal!
Mais de perto, cerrou os olhos tentando ver
melhor...se calhar estava a ver mal, nem tinha lavado a cara...A Senhora tinha
uma Coroa na testa, uma coisa bonita que ela nunca tinha visto nas mulheres da
aldeia..Hummm...e cheirava taõoo bemmmm!!!!!Parecia assim como quando as flores
nasciam todas ao mesmo tempo, perfumando o ar...
A criança estendeu a mão à Senhora que lhe
acariciou a face...
-"Vem pequenina, não temas. Desta hora em
diante, estarás ao Meu serviço e Eu protejo sempre as Minhas Filhas...!"
Um vago calor, uma embriaguês doce, foi-se
apossando dela...Fechou os olhos, embalada pela voz gentil e dormiu...
Acordou horas mais tarde, sozinha, e ficou
triste ao verificar que apenas tinha sonhado.
Levantou-se de um pulo..tinha que chegar a
horas de ver os homens voltarem com o Tronco!
Ouviu algo tilintar e baixou os olhos....
No chão da gruta algo brilhava: era um pequeno
colar! Pegou-lhe cuidadosamente ...
No seu centro brilhava um Crescente de Prata!
Correndo extasiada com ele apertado contra o
peito, ouviu trazidas pelo vento:
-"Guarda-o bem Minha Filha: em breve o
usarás ao Meu serviço!"
Eu sou Lusitânia